Linhas em branco. Um grande vazio preenchido com nada. Meu coração parecia-me tão completo antes de sua chegada. Pelo menos, o suficiente. Sua partida deixou-me assim. Como um papel em branco, esperando ansioso pela tinta mágica do amor pintar-me outra vez. Será apenas o amor suficiente para tal feito? Talvez precisemos de algo mais, murmura meu coração, choroso. Meu cérebro enraivece-se por vê-lo assim. Eles costumavam ser amigos, você sabe. Até a sua chegada. O coração sempre tão esperançoso, amoroso e, segundo cérebro, certas vezes ingênuo, decidiu por lhe dar uma chance. Apenas uma, implorou coração ao cérebro, que se fez de difícil e por várias vezes negara-se a aceitar, mas o coração sempre com seu jeitinho meigo o convenceu e o cérebro acabou por ceder. Quem não cederia? Um apelo tão sincero e profundo jamais poderia ser negado. Foram felizes por muito tempo, tempo mais até do que cérebro poderia sequer imaginar. Coração estava cada dia mais feliz, pensando em como sortudo era por ter você e jamais se dando chances de pensar em como seria se não tivesse. Cérebro nem sequer continha-se ao ver coração tão pleno de felicidade. Eles eram tão ligados. E você só os separou. Cérebro agora se culpa por tê-lo aceitado em suas vidas, por ter cedido tão facilmente a algo que tinha como certo ser errado. E coração culpa-se mais ainda porque agora cérebro jamais aceitará outro alguém. O tão cético cérebro tornou-se ainda mais calculista, e coração, antes tão cheio, tão completo, encontra-se vazio, sem motivos para continuar. Seu tão querido amigo cérebro machucou-se, por sua culpa. Ele mesmo está terrivelmente machucado. Por isso, quanto à pergunta feita antes, coração pensa que apenas cérebro pode respondê-la, coração já se obstem de tomar decisões. Cérebro parece pensar e pensar, como de costume, e apenas depois de uma boa olhada em seu amoroso amigo coração agora ferido, sussurra: "Não importa se é agora ou daqui há anos, esse tal de amor há de nos encontrar novamente, coração. Só que na próxima vez, estaremos preparados para ele."